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segunda-feira, 26 de março de 2018

Fingindo Gostar de Viver

No que viver se deferencia
De faculdades das quais não queria
Se tudo no final é uma porcaria
E nem quero viver

Em quanto tempo terei de me forçar
A fingir, a gostar, de estar
Aqui na Terra, Mãe, Planeta Água?

Será que viver é trabalhar
Pra nunca mais parar
Pra nunca se saciar
E fingir gostar dos momentos rasos
De felicidade
De se perder no mar?

Até quando fecharemos os olhos
Pra dor em nossos ossos
Pra essa blasfêmia de respirar?

Por que todos me querem mudar?
Fingindo não estarem a afundar?
Sou só eu mesmo louco
Odiando aqui estar?

Me afogo no luar
Só queria saber
Se era mesmo a maré
Que a Lua está a puxar

Upside Down

Some days won't kill yourself,
Set the paying back for ourselves
But I'm just not ready yet
I'm very aware,
Just cannot flow right back

Don't mention that
But it's mentioned
Don't talk 'bout that
You have to have

All excuses to be flattered
Followers everwhere
Don't ruin the comeback
We need to stop talkin trash

Rise me up to pull me down
Build all the walls of the town
Then throw in a storm
And through the storm
Lightings shine insights of hell
We just can't get around
All the glittery messed up gall
We stand up because we fell
And I'm enjoying the ground

It just seems all upside down
And it isn't working out
But just don't mention that
It's mentioned

Humilhação

Tudo que eu faço, humilhação,
Num descompasso, humilhação
Estardalhaço, humilhação,
Eu me desfaço, humilhação

Tento, não nego
Me sinto culpado
Compareço,
Vivo n'um terço
De tudo que faço
Contudo, esqueço
Recaio, contesto,
Reclamo, atesto,
Desapareço,
Me machuco,
Eu mereço,
Por desumano eu me passo
Com tudo que peço
E ganho
Não me satisfaço
Nas coisas boas
Que eu rechaço
Construo motivos
Pr'um esculacho
Não sossego meu facho,
Não consigo dormir
Acordo num despacho

Te peço, me seja, motivação
Te peço, me deixa, motivação,
Te peço, me beija, motivação
Te quero, te odeio, motivação!

sexta-feira, 23 de março de 2018

No Embalo da Rede

De vez em quando me encontro afundado numa rede que não é minha, suspenso acima do chão de uma casa que não me pertence, balançando na maresia da praia que pertence a todo mundo. De vez em quando, encontro os olhos de uma companhia que, como eu, está como um estranho convivendo nessa casa de ninguém de nós, e me sinto compelido a confortá-la, com uma vontade que também não é minha.

Meu estômago se retorce e eu entonteço, escondendo a cara atrás da renda, me castigando com a compressão dos punhos segurando firme o pano que me arranha. Será que ela estava pensando a mesma coisa, em falar comigo? Será que sou tão sozinho, e também outras pessoas, porque é difícil ter couragem de quebrar num só impulso a vidraça que nos impede de iniciar uma interação? Um saco. É o que se cria ao redor da minha cabeça quando penso "eu provavelmente deveria dizer olá". Mas sou um estranho em uma terra estrangeira, e não sei o vocabulário adequado, ou a postura mais formal. É, talvez não tenhamos nascido pra nos amigarmos.

Respiro fundo. Espio por cima da rede que usei de muro. Os olhos dela encontram os meus, é como um inseto caindo na retina, olhamos pra outro lugar. O primeiro que sirva de desculpa. Tensão sexual. Merda. Que que eu tô fazendo aqui? Tolice da minha parte pensar que alguém iria querer conversar. Ainda mais se eu não me contenho nem pra fugir de um contato visual. Se bem que continuar olhando poderia parecer... não sei, estranho.

Ah, quem liga? Respiro aliviado. Escorrego o pé pra fora, pra pegar embalo. Quando formos forçados, num jogo de tabuleiro, de baralho, numa piada social fácil de contar, no meio de um sorriso desacanhado, ela vai se encantar. Ou só revelar sua fascinação pela harmonia na qual nossas posições se encontram. Nos juntaremos pra debochar dos donos da casa, e nos sentiremos a vontade pra sair de nossas cascas. Ocasionalmente, será natural o nosso abraço.

Olho pro portão. Um carro estacionando. Ela vai elétrica até ali, num pique complicado. O que está acontecendo? Ah, sim. São seus pais. Ela nem olha mais pra trás. Vai ir embora. Mergulho. Afundo. Sumo. Vou embora.

"Tchau", ouço ela dizer, olhos brilhantes num sorriso implícito a me agradecer, e um aceno de desculpa pelo abandono. "Tchau", sorrio de volta.

domingo, 18 de março de 2018

Ainda Somos Os Mesmos

Não é curioso
Que depois de tanto tempo
Na verdade nossos blogs
Se parecem os mesmos?

Nas suas cores,
Nos seus assuntos,
Nos odores
De planta e chuva
Na escolha
De palavras
Avassaladoras.

O teu sempre superior.
O meu, timidamente,
tentando ser prior
com sermões indecentes.

O teu, meu amor,
sempre melhor.
O meu, que é teu,
tentando se superar.

Não é curioso,
que de tanto tentar
acabamos mesmo
nos separando?

E ainda assim,
ainda somos iguais.

Reizinho

Reizinho me beija
Reizinho me ama
Reizinho me deixa
Debaixo tuas coxas
Pra eu me doar todo
Pra eu te ser um só
Contigo ser um só
Contigo ser o sol
Sermos reis do ciclo
Reencarnarmos juntos
Sermos reis do mundo
Reizinho no berço
Reizinho na cama
Reizinho no beiço
Te dou tua comida
Semeio tua vida
Adoro tua cara
Te amo, me iluminas
Reizinho da minha
Reizinho, comida
Reizinho te amo
Por mais que não exista

quarta-feira, 14 de março de 2018

Olhar Malicioso

Solidão não é o fim
Meus fios grandes
Denunciam
Sou tão mais que isso

No meu olhar de quem quer coisa
Tá contada toda a verdade
Risada, risada, risada

No meu olhar a nossa história
Começo, meio e fim, tá escrito
Acaba na cama, arranha
Até o amanhecer e acaba lá

A cabala denunciará
Nosso destino de se matar
Um por cima do outro
Durante a madrugada

HA, HA, HA!

terça-feira, 13 de março de 2018

Disfarce & Verdade

Nem todo o estilo do mundo
Pode mudar o que você é por dentro
Nem toda a maquiagem esconderá
Sua antipatia

Corrige os defeitos externos
Abafa o inferno interno
Assim não tem como melhorar
Não tenho nada com quê trabalhar

Nem todas as marcas, grifes e barbas,
Óculos, monóculos, cartas,
Sensacionais esportes
Que você pode praticar
Te dão saúde, mas todo açude
Tem fundo de lama

Nem todos os meios de transporte,
Carros Sport, ganhar jogos de sorte
Podem te livrar.

E nem todo o batom,
Dinheiro pra Chandon,
Lingeries de marque
Restaurantes do bom,
A vontade de dar,
Lanchas sobre o mar,
Tudo que quiseres ostentar
Pinta-te de ouro e toca-te a dançar

Se estiveres podre por dentro
Não tenho com quê trabalhar...
Se estiveres podre por dentro
Não quero nem me aproximar
Se estiveres danado, insano
Feio no dentro mais profundo
Nem todas máscaras do mundo
Podem disfarçar

segunda-feira, 5 de março de 2018

Chama Atenção

Quando é pra notar
Meus pedidos de socorro
Meu corpo morto
No meu quarto escuro
Me ignora

Quando eu precisava
Desesperado
De uma palavra de apoio
Estava afastado

Como é que tudo,
De tantas maneiras,
Entrou em tamanha decadência?

Que saudades da época,
Mesmo escura,
Em que ao menos existia razão alguma
Pra eu existir.

Mesmo mórbida
Não parecia falsa.

Saudades de namorar a morte
Quando meu corpo era um altar
Saudades de tudo que era ruim
Que me fazia me sentir quase lá.

Que pena que tudo que é ruim
Chama mais atenção.
Que pena que só se comenta morte, putaria e esperança falsa de dias melhores.

Que pena que eu quero tudo menos
Tudo de bom que acho que falta em mim dentro e arredores.

Anitta

Seu olhinho caindo de sono
Sempre cintilante
Ainda assim tem a boca cheia de vida
Me deixa louco
Usando-a

Quer balançar a bunda preguiçosamente
Não se esforça pra ser gostosa
Eu não entendo como alguém pode ser
De tantas maneiras diferentes assim

Quero você pra mim
E todo mundo que se pareça com você
Quero você pra mim
E todo mundo que se pareça com você

Posta foto fazendo festa
Usando aba reta
Orbitando outro universo
Cidade e favela

Dançando de chinelo
Beijando com a boca sincera
Conjurando um amor estranho
Não tem mais nada
De que eu queira saber

Só quero tu pra mim
E todo mundo que se pareça com você
Quero você pra mim
E todo mundo que se pareça, garota

Nome proibido no meu texto,
Anitta.

Mesmo Infeliz

Não abre a boca pra falar
Nada, nada de bom
Vive a sua vida inteira
Fora, fora do tom

Reclama até enfartarté
rias congestionadas
Morte escorre da língua
ásperásperaiá

Minha intenção não é te magoar
Mas é impossível evitar
Querer que pares de respi
rar se for só pra praguejar

Teu arredor apodrece
Culpado o teu desgosto
E não é que até parece
Que tem no encalço encosto
Tamanho o teu remorso
Tamanho o teu esforço
De mostrar desconforto
Tão infeliz, suponho
E no final me culpo
Eu sou ou não sou um monstro?

Pai do meu corpo torto
Cheio de seus defeitos
E pecados tórpidos de si mesmos

Venho pedir
Que me deixes ser feliz
Venho pedir
Que me deixes ser feliz

Não te mato por um triz
Venho pedir
Que me deixes ser feliz
Venho pedir
Me deixes mesmo infeliz

O Que Quero E O Que Posso Ter

Quero um cigarro
Enrolado num pano
Contrabandeado
Pra fumar escondido

Quero um afago
Mesmo afobado
Perdendo a linha
Eu lambuzado

Quero o teu abraço
Ficar no mormaço
Perdido no espaço
Dentro dos teus braços

Quero um compasso
Pra delinear
Meus limites pequenos e fúteis

E saber de tudo
Que posso, não posso
Modelar meu querer e me ater
Ao mundo no qual mereço viver

Tanta Beleza

Tem tanta beleza
Tem tanta beleza nesse mundo

Menina que não se preza
Bailarina dança
A mãe em casa reza
A filha não tem pressa
E ai de quem lhe impeça de sair...

Tem tanta beleza
Tem tanta beleza nesse mundo
Tem tanta beleza
Tem tanta beleza nesse mundo

Cresça e apareça lá
Não seja sempre criança, tá?
Tem tanta beleza...
Vai lá procurar

O homem com sua arma
Lobisomem vai estuprar
A bala de prata a estourar
Miolos com sangue a jorrar

Tem tanta beleza
Tanta beleza pra se achar

Tem que tá na luz pra enxergar
Tem que tá na luz
Detrás da pele visível do mundo
Afundamos no pus

Tanta beleza
Que não tá pra nós
Tanta beleza
Que me é algoz
Tanta beleza
Perdida no foz
Tanta beleza
Tanta beleza
Embaixo do mar
No desespero
Deixado pra trás
No cabeleireiro
Na Elza
No Rio de Janeiro
E nós presos
Embaixo dum bueiro

Tem tanta beleza
Ainda nem fui até Juazeiro
Sou só de vez em quando
Chamado de fuleiro

Já vi gente morrendo
Sorrindo pro vento
E gente plena
Se doendo inteira

Porque tem tanta beleza

Nos cortes dos pulsos
Mendigos imundos
Governos falidos
Cheios de absurdos

Os cuidadores do povo
Cercando inocentes
Com pistolas automáticas
Atirando na gente

Eu quero saber cadê
Toda beleza desse mundo
Eu quero sabê
Beleza demais pra um
Por que
De menos pra outro?

Um poema, um conto,
Um lamento, um choro
Reclamação do ouro
Indagações no morro

Quando a gente vai sair?
Que horas podemos ir?
Pra bem longe daqui
Bem longe do Brasil

Tem tanta beleza
Tem tanta beleza nesse mundo
Tem tanta certeza
Só pra quem não conhece o fundo

Pra quem é vagabundo
Desprezo, disjunto,
Inútil e sujo,
Porco depressivo

Não sabe cantar
Não sabe nada
Tanta beleza
Me come em cima da mesa
Perde a virgindade comigo na clareira
Me ensina inglês
Com minha boca entre as tuas pernas
Me dá teus peitos,
Me dá’s nádegas
Me dá defeitos
Pr’eu achar perfeitos
Me mostra Elis
Pr’eu esquecer Cobain
Me reapresenta
Pra eu ter que escolher

Me dá um papel infinito
Pra eu escrever beleza
Me dá um palito
Pra eu fazer de cigarro
Tanta beleza
Mas me atiro no barro
Areia movediça
Farsa maldita
Que é a minha vida

Eu quero morrer
Sem precisar entender
Porque é que a vida
“É uma dádiva, viva!”
Me deixa morrer
Sem precisar me conter
Quando lembro meus pais
E me encho de culpa

Tem tanta beleza na vida
Psicóloga ali na esquina
Exercícios em seguida
Se esqueça, envergonha
Não aceita a carona
Porque ter fim
Se você pode ser infinda
Tão linda
Tão linda
Tão linda
Tu és toda
A beleza
Da minha existência

Pena que se foi
E nunca soube pra onde
Tanta beleza
Que se torna maçante

Tanta beleza
Tanta beleza
Tanta beleza
Que já se tornou feiura

sábado, 3 de março de 2018

Engolir Em Seco

Eu ainda sinto o cheiro
E a saudade no peito
Mas engulo em seco
E vivo o desespero

Mas eu não volto pra lá
Do furacão o meio
Mesmo tanto querendo
Eu não volto pra ela

Eu ainda sinto o cheiro
Eu vivo o desespero
Eu engulo em seco
Na garganta os dedos

Penso no abismo
Me atiro no berço
Me mato no mormaço
A saudade no peito

Os cabelos ao vento
Pratico meu talento
Tenho tanto tempo
Amanhã eu tento

Amanhã eu tento
Outro coração sem alento
Como o meu
Engoliremos em seco
Nossos lamentos

Adeus, talvez, até
Nunca mais te vejo
É isso que almejo
Te vejo no axé

Até nunca mais
Fui até o inferno
Pra te buscar
Levando teu terço

Mas se eu encontrar
Outro coração sem alento
Engoliremos em seco
Nossos corpos inteiros

E até nunca mais.

É Fácil Pra Quem

É fácil pra quem não sente
A dor consumindo o corpo
Não ceder à compulsão
Não mutilar os pulsos

É fácil pra quem não está preso
Na jaula que é o crânio
Não querer sair correndo
Gemer de nojo do próprio rosto

É fácil não torcer por um piano
Caindo do céu ao seu encontro
Eu não fumo, é fácil não fumar
É frescura se matar, você só está cedendo aos próprios contos

É fácil não desatar os próprios pontos
Desenterrar no fundo da mais esquecida massa encefálica motivo de se achar merecedor do esgoto
É fácil não ser lixo
Sendo ouro

sexta-feira, 2 de março de 2018

Morte

Eu sou a morte
Sou carne podre
Apodrecendo
Sou pura e puramente a morte lenta

Sou o sofá no qual afundo
O cigarro no teu bico imundo
A toxicidade da tua palavra
Um resumo do teu mundo

Sou vazio imenso e incompleto
Esperando enxerto
Sou uma alma torta vagando a esmo
Sou isso mesmo

Sou o vencedor do povo
Carregando o sofrimento
(Um saco vazio de sentimentos)
Sou ódio e agonia
Querendo ser nada além de poesia

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