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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Meias listradas

Me parece que sua compulsividade não é apenas por fumar. É sobre ter os cigarros ao seu redor. É sobre mostrar ao mundo que os tem. É sobre escrever sobre eles. Fazer deles o seu sofrimento e o seu descanso.
Me parece que beber te é incômodo. Que tem compulsão quando começa, que sente que pode desaparecer deste mundo por algumas horas.
Me parece que maconha é como petit gateau, tem compulsão por pensar, e ganas de tentar desistir outra vez mais.
Me parece que cocaína é seu sonho compulsivo, assim como a overdose que traria e a morte que almeja.
Alto, sem dor, cheio de coragem - para encarar o mundo lá fora. Pra conhecer a quarta dimensão.

Suas roupas velhas, sem motivos pra existirem. Seu casaco significativo, as camisetas desbotadas e o roupão mofando em cima de uma pilha de outras peças em cima da escrivaninha.
As novas meias listradas. Os velhos problemas rondando na cabeça.
"Você sempre some, sempre fala sobre sumir, só quer morrer e deixar de existir."
A verdade? A verdade sobre Nícolas Arths. Está escrevendo este texto e acendendo um cigarro.
O texto deveria se chamar compulsão, como todo título cliché com nomes impactantes que ele copia à semelhança das obras de Débora, tentando superá-la.
Meias listradas. São um presente de seu pai, significam mais do que parecem. Estão a sua frente, te fazem lembrar de Pedro e sua aura infantil. Porque você não é Pedro? Ou porque não se permite ser?

Tudo que a rainha dos elfos sempre quis. Que tu tens te tornado? Lembra que prometera a ela que viajaria pelo teu mundo depois de pegar o caminho errado, mas que ele te levaria a ela uma vez mais? Porque depois de tanto tempo, de tantas histórias, porque você ainda ama ela? Porque você ainda ama todas as outras? Que elas fizeram por ti? Alguma delas estava lá para tirar o cigarro de suas mãos? Alguma lhe estendeu o braço para arrancar-te do precipício que é tua cama?

Estamos afundando outra vez. Sempre mais fundo. Sempre mais cigarros do que da última vez. E você ainda só pensa em terminar seu livro ou sumir.

Aquele livro é a única coisa que pode acertar tudo. Me por de volta ao lado dela.

Este texto devia se chamar confissão.

Como eu odeio esse mundo. Como odeio Lilian por ter partido. Como odeio Fernando por me afogar todos os dias. Quantos são necessários pra cumprirem o sacrifício? Isso é minha expiação, tudo em nome da rainha dos elfos.

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