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terça-feira, 23 de maio de 2017

Tinta

Talvez se eu arrancasse essa pele
Que reflete no espelho
Talvez se eu pudesse simplesmente
Me despir inteiro

Essa natureza não comporta meu jeito de ser
Este eterno desespero quando me levanto ou deito pra ler
Quando eu vou a uma festa, se ministrasse uma orquestra
Talvez não iria haver.
Mas não sai de mim, não me deixa em paz

Então hoje eu vou me matar
Amanhã e pra todo o sempre
Em todos os meus versos
Vou me lavar
Meus pensamentos imersos
Em água benta
Eu vou me afogar

Se realmente tem alguém aí que me ama
Se aproxima no embalo dessa música linda
Porque um dia o pincel vai ser a faca
E o papel meu pulso cheio de tinta

Pra fuga da vida fugaz
Finjo que não sou eu mesmo
Mas ainda estou ao teu esmo
Prestes a cair no marasmo

Talvez se eu me despisse inteiro
De todos os preconceitos
E me deixasse possuir
Por este espírito agourento
Que me cerca e não me deixa
Mas ao menos me gosta
Por quem sou
Mas e quem sou eu?

Mas se você me ama de qualquer jeito
Se aproxima, pode vir sendo tão linda
Porque um dia a tecla vai ser o gatilho
Disparando na minha pele pergaminho

Um dia o compasso vai ter fio
E eu vou ser realmente um rio
Não espera, só vem
Na espera nada se tem
Eu preciso saber se tem alguém
Mortal ou não
Desde que dotado de paixão
Que me queira bem
Não espera, vem
Me ama também

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