Estar em um outro lugar
Em qualquer outra casa, garagem ou sala de estar
Não me apetece, não me pertence extravasar
Tal qual um câncer se aloja,
Uma nota retrata meu lar.
Não devo me mudar
Nem hoje, nem amanhã, nem semana que vem,
O que tem pra hoje é aguardar.
Tal qual um câncer se aloja,
Uma nota retrata meu lar.
Uma mudança esperada,
Um degrau alcançado,
Uma etapa ultrapassada,
Demora, requer esforço e demanda.
Tal qual uma afta queimada,
É hidratação o que falta.
É tempo que me resta
E energia de sobra,
É dinheiro o que falta.
E tempo, tempo, tempo...
O tempo esbanja tempo,
É tempo que nunca acaba.
E a juventude que o mundo precisa
Não me pertence, não me agrada.
E o financeiro me atrasa
Mas a experiência enche o bolso
Com o tempo, o tempo que nunca acaba.
E na velhice, tempo me falta, energia requiria,
E dinheiro, é tudo que tenho.
Ei, vida de chatice mal lavada,
Criança não dança, mas também não é disso que venho,
Falo da herança, aquela prometida, tanto talento,
Não sei onde enfio.
E tempo, tempo, tempo...
Tal qual um vírus se instala,
Tarefa feita é alento de pouco tempo
Porque logo contemplo a rotina
De novo, outra vez, completamente estagnada.