Todos os sintomas apontam saudades
Mas as placas dizem que esse é um caminho sem volta
Mesmo que o vento me empurre pra lá
Exatamente no âmago dos meus problemas
Meu conforto está em esperar a hora certa
E o desconforto em ela nunca chegar
Poemas ou têm pontos ou vírgulas ou nada
Minha vida ou tem um fim ou problemas ou não é nada
Minha pele soou agonia
Minha mente suou plasma
Caiu em vão a espada que eu nem tinha levantado por inteiro
Choro em dessintonia com minha alma escura
Nunca me basta cair uma, duas, três vezes
Tenho que continuar tentando, e é tudo em vão
Sempre volto pra cair no banheiro
Sem forças, sem lucidez, pra dormir no chão da cozinha
Pra fazer minhas mulheres de cozinheiras
Pra exercitar meu feminismo falso
Pra ser preguiçoso, pra não lutar por nada
Fazer de conta que luto por tudo
Pra escutar o barulhinho de chuva
Que só tuas confissões têm
Pra continuar gritando enquanto estou mudo
Pra nunca me bastar escrever mais e mais linhas
Sem dizer uma única palavra
Não convém ser feliz a quem eu sempre iludo
Não cabe a mim dar prazer à quem não quer
Não faz jus à expressão tua voz rouca
Há em todo verso a rima que rimo sem parar
Eu aceito o que vier, qualquer coisa que vier
Mas nunca me levanto pra caçar o que é bom
Nem o que é ruim
Nem coisa alguma que eu não amar.