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quinta-feira, 25 de junho de 2015

Carta de Larisse

Fique um pouco mais. Na geladeira tem aquela Coca que você gosta, aquela maionese que você ama colocar no pão e temos pizza de ontem também. Fique. Deve chover daqui a pouco, pelo menos eu ouvi dizer. Mas se não, deve estar quente demais. Sei lá. Fica. Eu ligo o ar condicionado ou fico te abanando, se você quiser. Fique um pouco mais. Ou muito mais. Tem algum maço de cigarros teu perdido em meu armário. Tem aquele travesseiro meu que você gosta de dormir. E eu comprei DVDs legais esse mês. Fica pra gente ver junto.Fica, vai. Eu lavo a louça e posso ler pra você, também. Posso fazer bolo ou pizza de mentirinha. Eu arrumei a cama pra gente. Ou podemos ficar aqui neste sofá cor de ouro envelhecido. Fique. Lá fora, está perigoso demais, eu vi no noticiário. Há trombadinhas por toda a cidade que assaltam em ônibus ou esquinas. E os taxistas também são maus e podem tentar te matar ou algo assim.Fica aqui comigo. Eu estou doente. Olha? Estou começando a ficar com febre, tosse ou câncer, sei lá. Minhas mãos estão tremendo e eu sinto que meu coração está acelerado demais esta noite. Fica para cuidar de mim? Fica, vai. Tua mãe pode esperar. Teu pai pode esperar. Teus amigos também, podem esperar. Até as tuas amigas que não gostam de mim podem esperar. Fica, vai. Manda mensagem ou liga para todos eles e diz que foi por aí.Fica. Tem biscoitos de chocolate na cozinha. Tem livros legais na prateleira. Tem jogo de tabuleiro, baralho ou coisa assim. Tem coisa de beber, de fumar. Fica, droga. Tem seriados legais no quarenta e quatro. Eu prometo não te machucar fazendo cócegas. Prometo acarinhar o lóbulo da tua orelha e te fazer massagens também. Ou te colocar no meu peito e te fazer carinho na nuca até você dormir. A gente pode transar, se você quiser. A gente pode falar mal dos outros ou da gente mesmo. A gente pode ficar em silêncio, também.Você realmente quer ir? Tudo bem. Pode ir. Mas me deixe sua boca. Teus braços. Tua voz. Teu peito. Ou melhor, vai não. Fica aí até amanhã então,na verdade fica aqui pra sempre.
Escrito por L. P. Martins

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