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segunda-feira, 5 de março de 2018

Tanta Beleza

Tem tanta beleza
Tem tanta beleza nesse mundo

Menina que não se preza
Bailarina dança
A mãe em casa reza
A filha não tem pressa
E ai de quem lhe impeça de sair...

Tem tanta beleza
Tem tanta beleza nesse mundo
Tem tanta beleza
Tem tanta beleza nesse mundo

Cresça e apareça lá
Não seja sempre criança, tá?
Tem tanta beleza...
Vai lá procurar

O homem com sua arma
Lobisomem vai estuprar
A bala de prata a estourar
Miolos com sangue a jorrar

Tem tanta beleza
Tanta beleza pra se achar

Tem que tá na luz pra enxergar
Tem que tá na luz
Detrás da pele visível do mundo
Afundamos no pus

Tanta beleza
Que não tá pra nós
Tanta beleza
Que me é algoz
Tanta beleza
Perdida no foz
Tanta beleza
Tanta beleza
Embaixo do mar
No desespero
Deixado pra trás
No cabeleireiro
Na Elza
No Rio de Janeiro
E nós presos
Embaixo dum bueiro

Tem tanta beleza
Ainda nem fui até Juazeiro
Sou só de vez em quando
Chamado de fuleiro

Já vi gente morrendo
Sorrindo pro vento
E gente plena
Se doendo inteira

Porque tem tanta beleza

Nos cortes dos pulsos
Mendigos imundos
Governos falidos
Cheios de absurdos

Os cuidadores do povo
Cercando inocentes
Com pistolas automáticas
Atirando na gente

Eu quero saber cadê
Toda beleza desse mundo
Eu quero sabê
Beleza demais pra um
Por que
De menos pra outro?

Um poema, um conto,
Um lamento, um choro
Reclamação do ouro
Indagações no morro

Quando a gente vai sair?
Que horas podemos ir?
Pra bem longe daqui
Bem longe do Brasil

Tem tanta beleza
Tem tanta beleza nesse mundo
Tem tanta certeza
Só pra quem não conhece o fundo

Pra quem é vagabundo
Desprezo, disjunto,
Inútil e sujo,
Porco depressivo

Não sabe cantar
Não sabe nada
Tanta beleza
Me come em cima da mesa
Perde a virgindade comigo na clareira
Me ensina inglês
Com minha boca entre as tuas pernas
Me dá teus peitos,
Me dá’s nádegas
Me dá defeitos
Pr’eu achar perfeitos
Me mostra Elis
Pr’eu esquecer Cobain
Me reapresenta
Pra eu ter que escolher

Me dá um papel infinito
Pra eu escrever beleza
Me dá um palito
Pra eu fazer de cigarro
Tanta beleza
Mas me atiro no barro
Areia movediça
Farsa maldita
Que é a minha vida

Eu quero morrer
Sem precisar entender
Porque é que a vida
“É uma dádiva, viva!”
Me deixa morrer
Sem precisar me conter
Quando lembro meus pais
E me encho de culpa

Tem tanta beleza na vida
Psicóloga ali na esquina
Exercícios em seguida
Se esqueça, envergonha
Não aceita a carona
Porque ter fim
Se você pode ser infinda
Tão linda
Tão linda
Tão linda
Tu és toda
A beleza
Da minha existência

Pena que se foi
E nunca soube pra onde
Tanta beleza
Que se torna maçante

Tanta beleza
Tanta beleza
Tanta beleza
Que já se tornou feiura

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